segunda-feira, 30 de maio de 2011

Entrevista: Lázaro Magalhães

Para esclarecer dúvidas sobre a área de atuação do profissional de jornalismo impresso, conversamos sobre o assunto com um dos Editores Executivos do Jornal Diário do Pará.  Lázaro Magalhães, 40 anos, jornalista formado pela UFPA (Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, 2000), atualmente é responsável pelo Caderno A de domingo e por edições de suplementos especiais. Já foi repórter de O Liberal (1995 a 2000), assessor de comunicação da UEPA (2000-2005) e atuou também na assessoria de comunicação do Museu Paraense Emílio Goeldi (2005-2008), na área de jornalismo científico. Especialista em Semiótica e Artes Visuais pela UFPA (2005), foi professor do curso de Comunicação da UFPA (2006-2008). Já foi agraciado com o Prêmio Jabuti (Câmara Brasileira do Livro, CBL, 2000), pelo livro "O Céu dos índios Tembé", e com o prêmio Danilo Remor de Jornalismo Ambiental (2007), pela matéria "O manejo nas matas de várzea". Desde 2010 acumula no Diário do Pará a coordenação da Escola Diário de Jornalismo.


Qual é o perfil do profissional de jornalismo exigido hoje?
Lázaro: Basicamente eu diria que as redações têm grande necessidade de profissionais com bom domínio da língua. Isso é absolutamente decisivo, e pode definir se você está fora ou dentro do mercado, se você terá uma boa carreira ou não: domínio da língua e de tudo que demais deriva disso: poder de síntese, capacidade de expressão de ideias e de retrato da realidade, e criatividade e ousadia para também operar a boa transgressão da norma culta, e também de seus formatos, quando necessário. E quando falo disso, me refiro a aquele bom tensionamento que faz a língua ir adiante.
O resto é o bom domínio das linguagens específicas de cada veículo, e isso, para além das universidades e dos esforços particulares de cada um, um mergulho no mercado em si também pode oferecer. E vale ressaltar que estamos na grande esteira de uma revolução tecnológica, que é a digitalização. Ela já mudou vários cenários de atuação: ampliou mercados de trabalho, já mexeu com a técnica e com as linguagens tradicionalmente já estabelecidas e não cansa de criar outras novíssimas. Estar integrado, atento e apto a este contexto é crucial.
Mas há ainda coisas a mais que costuma-se sempre listar como pressupostos fundamentais para quem quer atuar na área. Vontade de contar boas e novas histórias, e daquela vontade que faz você se esmerar com o que está contando, porque se está preocupado realmente com o entendimento ou com qualquer outra reação de quem está ouvindo, vendo, lendo ou clicando do outro lado. É preciso também curiosidade por saber, vontade de descobrir o que é e como funciona tudo, além de inquietude, capacidade de se incomodar e, sim, se deter, questionar, encantar e mesmo se tocar frente ao real. É preciso fundamentalmente um grande interesse pelas pessoas e por tudo que está relacionado à condição, à história e à cultura humana e aos seus impactos sobre a Terra. E, acho eu, afinidade com ideais de justiça social e melhoria da vida de sua família, do seu próximo, de sua rua, bairro, cidade, país... do mundo. Acredite. Até bom obituário e colunismo social é possivel fazer com isso.   

. Como você avalia os profissionais de hoje? Eles saem da universidade preparados para o mercado?
Lázaro: Em um mercado onde hoje já não se exige legalmente o diploma para atuação, vale ressaltar que as universidades de comunicação continuam fundamentais para a boa formação profissional na área. A grande vantagem do diploma universitário é justamente aliar conteúdos onde é possível aprofundar os conceitos e discussões sobre o fenômeno da comunicação, massiva ou não - e os de caráter de formação mais voltada à técnica e à experimentação em linguagens diversas (rádio, impresso, TV, web) - ao bom e necessário debate sobre pressupostos éticos na nossa área de atuação. Nesse contexto, é preciso ver o mercado como um importante elo da cadeia. É nele que as experiências profissionais de fato se dão mais efetivamente, de forma mais completa. É no seio do mercado que as experiências em comunicação estão em transformação também, de forma mais dinâmica e intensa. Então, em vez de discutirmos se as universidades formam ou não mão de obra preparada totalmente para esse mercado, temos que entender que é quase um pressuposto que esses novos profissionais tenham efetivamente esse contato com o mesmo, através de estágios ou outros meios, porque ele é e continuará sendo imprescindível à complementação dessa formação que vem das universidades. O grande desafio das empresas de comunicação hoje, ao meu ver, é como proceder boas experiências, e até mesmo criar novas alternativas de contato entre esses novos profissionais que oxigenam as redações e o mercado de trabalho. Tanto as empresas quanto os recém-formados precisam uns dos outros. Cuidar bem dessa relação hoje é crucial para ambos.

. Para quem quiser trabalhar na área de jornalismo impresso, que dicas você daria?
Lázaro: Primeiramente, ler e escrever muito. Experimentar e tomar contato com as mais diversas formas de texto, e todo tipo de conteúdo. Isso é fundamental e parece que cada vez mais se esquece disso. Não imagino um profissional de texto que não more entre as palavras, no ecossistema das ideias, das expressões e dos retratos que se tornam possíveis a partir da palavra escrita, impressa.
E além de gostar muito da cultura do impresso, passando da paixão pelos formatos vários às curiosidades gráficas, outra coisa é se preparar e estar cada vez mais atento para as outras condições que se exige cada vez mais para esse profissional do texto. Ele precisa cada vez mais dominar sua técnica, mas a situando com excelência num contexto onde essa palavra impressa está impactando e sendo impactada em relação a todas as outras condições desse suporte que é a edição em papel: do design gráfico à relação entre fotografia e texto, ou à lógica da sequência de páginas que constroi o discurso ou a linguagem própria de uma revista, um fanzine, um ou um jornal.
Já se exige em jornais como o Diário do Pará, por exemplo, que editores, além de dominar a língua e a técnica jornalística do impresso, sejam também paginadores criativos, aptos a mexer com softwares específicos. Isso é cada vez mais o futuro. E nem tão mais para o futuro, visto que já acontece agora, há também todas as possibilidades abertas pela franca necessidade de hibridação dos jornais e outros veículos impressos com hipermídias como a web. É preciso estar atento a esses cenários e as novas exigências do mercado.       

. Existe uma fórmula certa para se fazer um bom texto jornalístico para impresso?
Lázaro: Acho que não existe fórmula. Existe talvez um caminho. Ele é balizado, inicialmente, pelo respeito e reconhecimento das normas da língua escrita e pelas suas diferentes formas de expressão, bem como pelo apuro e criatividade no uso das técnicas de redação jornalística. E esse caminho é sinalizado também por uma série de recomendações éticas: é como aquelas plaquinhas... não ultrapasse, ande na velocidade permitida, respeite a vida, não faça de seu veículo uma arma, etc. Mas aí temos que pensar que há uma direção: onde ir? Com quais questionamentos? Com que motivações? Com que tipo de compromisso ou objetivo? É preciso lembrar que no final desse caminho deve-se conquistar o coração e a mente do leitor. São eles que estão lá.

. Qual é o objetivo da Escola Diário de Jornalismo?
Lázaro: A Escola Diário de Jornalismo surgiu em 2010 com o objetivo de cumprir duas tarefas: oferecer oportunidade de experiência em uma redação de jornal a profissionais recém-formados e estudantes do último ano de jornalismo, e também garimpar jovens talentos em jornalismo impresso. O formato é esse: fazemos uma seleção, com inscrições abertas ao público e provas de conhecimentos gerais e redação jornalística. Os selecionados participam de três meses de atividades jornalísticas na redação do Diário, retomando contato com diferentes técnicas de redação jornalistica e experimentando as linguagens das diversas editorias do jornal, bem como com os padrões editoriais do Diário. Ao final das doze semanas de oficina, um certificado é dado.
A grande diferença dessa experiência para um estágio comum numa redação é o acompanhamento contínuo do aprimoramento dos textos dos participantes, com tutorias efetivas dos editores do jornal, aliado a palestras e debates com convidados especiais, de fontes importantes de pauta a veteranos do jornalismo e experts em temáticas-chave da cobertura jornalística. Essa mescla de formação técnica de redação para impresso, enriquecida com o debate crítico da prática do jornalismo e dos temas gerais mais obrigatórios aos profissionais recém-chegados ao mercado é um diferencial da experiência.

.Quem pode se inscrever para participar da escola e como participar?
Lázaro: Podem se inscrever profissionais recém-formados em jornalismo e também estudantes do último ano do curso. As inscrições para a turma de 2011 estão abertas e podem ser feitas até dia 3 de julho, através de e-mail encaminhado a escola@diariodopara.com.br . Para concorrer, basta encaminhar um texto de até mil palavras, justificando porque o candidato quer participar da oficina, e anexar seu currículo. Pré-selecionaremos 40 candidatos que participarão das provas, a acontecerem em agosto. As atividades da edição 2011 da oficina acontecerá entre setembro e dezembro. Há mais informações no site do portal Diário Online, no endereço www.diarioonline.com.br .
Como você avalia esta iniciativa do Jornal Diário do Pará?
Lázaro: Tivemos mais de cem inscritos na primeira edição da oficina. Dos selecionados participantes, boa parte já foi aproveitada com contratação efetiva pelo jornal. A participação na Escola Diário de Jornalismo não é garantia de emprego garantido na redaçãol, mas obviamente é uma experiência que abre portas e valoriza currículos de candidatos a uma carreira no Diário. Achamos que todos ganham com esse projeto: os participantes, pela oportunidade de experiência no mercado, certificada, e a empresa, pela garimpagem de futuros talentos que podem ser aproveitados algum dia na redação. Acho que a empresa cumpre sua parte na formação desses jovens profissionais que chegam ao mercado.
Postado por: Carla Azevedo

2 comentários:

  1. Sempre muito bom ter a visão e opinião de alguém já mais experiente, que pode nos ajudar a ter uma ideia melhor do que é preciso!
    Ótima entrevista.

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  2. Uma excelente ideia postar essa entrevista aqui. Acho que tira duvidas de muitos que planejam atuar na area de jornalismo.

    O blog ta muito interessante!

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